Um democrata, um comunista e um papa
Grande parte dos veículos noticiosos do mundo trataram a retomada das relações entre Estados Unidos e Cuba como algo surpreendente. Deixaram de destacar, no entanto, que o acordo foi planejado, secretamente, durante um ano e meio.
POLÍTICA
Por Thaiane Firmino
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Foto: G1 |
Na última quarta-feira (17), os presidentes Barack Obama (EUA) e Raúl Castro (Cuba) apareceram em canais de televisão, simultaneamente, para declarar a retomada das relações diplomáticas entre seus países. Mas, a informação extra que compôs a cena foi a de que o Papa Francisco foi o maior incentivador do resgate da comunicação entre as nações, inimigas há 53 anos.
Segundo comunicado do Vaticano, o Papa escreveu durante os últimos meses à Obama e à Castro “convidando-os a resolver questões humanitárias de comum interesse, como a situação de alguns detidos”. O pedido do líder religioso foi atendido com a libertação do prisioneiro americano Alan Gross, em troca de três agentes de inteligência cubanos que estavam presos nos EUA: Luis Medina, Gerardo Hernandez e Antonio Guerrero.
É necessário levar em consideração que não foi apenas o pedido de Francisco que motivou a aparente reaproximação. Vivenciando momento político delicado, Obama precisava encontrar formas de ser visto como bom moço. Porém, apesar da ansiedade demonstrada por ele em garantir livre comércio com Cuba, as restrições continuam entre os dois países. Por estarem previstas em leis, apenas o congresso estadunidense pode pôr fim aos embargos.
Na chamada nova fase, entre as medidas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos estão a facilitação de viagens de americanos à Cuba, a autorização de vendas e exportações de bens e serviços, e o início de novos esforços para melhorar o acesso da ilha à telecomunicação e internet. Entre os republicanos, a constatação é de que Obama legitimou “um governo que não respeita os direitos humanos”, como afirmou o senador da Flórida, Marco Rubio.
É notório que não há efeitos práticos na mudança de vida dos cubanos, sobretudo porque o caos econômico e social em que se encontra o país não tem tanto que ver com os embargos americanos, mas com a opressão do sistema comunista. Para refugiados de Cuba nos EUA, a decisão de Obama foi um erro. “Uma negociação com o terrorismo”, gritaram em praça pública, na cidade de Miami. Parte dos moradores da ilha também desacreditam na total positividade da reaproximação. "A economia é muito pragmática, os investidores americanos medem o risco em números e não em violações de direitos humanos", destacou a blogueira Regina Coyula.
Levando-se em consideração que apenas o termo 'comércio internacional' já enfureceria o guerrilheiro Che Guevara, é, no mínimo, contraditório que a dinastia Castro passe a defender o livre comércio. Se o bloqueio econômico foi a principal razão da revolução de 1959, com a justificativa de que os países socialistas que mantivessem relações com os capitalistas seriam cúmplices da exploração imperialista, é suspeita a atitude atual. Fico então, com as (sábias) palavras do jornalista Felipe Moura Brasil: “Sobre fim do embargo, confesso: dá muita preguiça de escrever um texto para mostrar que dinheiro não faz democracia, mas enriquece ditadura”.
Um democrata, um comunista e um papa
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quinta-feira, dezembro 18, 2014
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