O 4º lugar está de bom tamanho
O Brasil se contenta com o 4º?
ESPORTE
Por Thaiane Firmino
![]() |
Foto: Eliseu Gomes |
Após o jogo da Argentina contra a Holanda, um amigo postou o seguinte em minha timeline: “Caramba! Queria Holanda na final. Aí, ia torcer para o Brasil ganhar da Argentina na disputa do 3º lugar. Mas, agora vou torcer para Holanda. Por mim, o Brasil se contenta com o 4º. E aí, Thaiane Firmino?!”. A pergunta só foi vista por mim hoje (10), e provocou mais um momento de reflexão. Iniciei comentando a postagem que ele havia feito, mas percebi que o espaço necessário para a resposta seria muito maior.
Desde antes da Copa do Mundo da FIFA 2014 passei a estudar um pouco mais a fundo o que seria esse "mundinho do futebol". Então, entendi que torcer para a seleção brasileira não significa, necessariamente, ser patriota. A "paixão nacional" virou comércio e a camisa representa uma empresa, não um país. Ao contrário do que dizem alguns, futebol e política estão entrelaçados, sim. Os grandes negócios sempre estão emaranhados entre si.
De todos os “desabafos” que li após a derrota da equipe brasileira, o que sintetiza da melhor forma a realidade futebolística atual é a do ex-jogador e atual deputado federal, Romário Faria (PSB-RJ). Nas palavras dele: "Nosso futebol vem se deteriorando há anos, sendo sugado por cartolas que não têm talento para fazer sequer uma embaixadinha. Ficam dos seus camarotes de luxo nos estádios brindando os milhões que entram em suas contas. Um bando de ladrões, corruptos e quadrilheiros! [...] Porque não se iludam, futebol é negócio, business, entretenimento e move rios de dinheiro", afirmou.
Nesse tumulto de piadas e indagações nas mídias sociais sobre a Copa ter sido comprada ou não, me deparei com algo escrito pelo jornalista Caíque Santos que achei suave e, por isso, compartilho aqui: "Não só a Copa foi comprada e bem paga, quanto os beneficiados vão devolver, de certo modo, um pouco dessa grana em forma de financiamento de campanha. Não? Estou errado? Tomara. Se eu estiver enganado não é culpa minha, moro em um país onde roubar do povo é normal e quem reclama é "coxinha", "elite", "vira-lata", "reclama de tudo" e até "antipatriota". Sinceramente, vivemos não apenas um momento de inversão de valores, mas, além disso, uma época em que as pessoas parecem esconder a cabeça embaixo da terra, como um avestruz, para enxergar apenas o que lhe é confortável e cômodo. Acorda galera!", escreveu.
É certo que é de muita inocência acreditar que a imprensa internacional está por falar bem do país (e não me refiro ao time de futebol) sem nenhum tipo de pressão. É muito mais ingênuo pensar que os resultados, e os caminhos para se chegar a eles, são apenas obra do acaso ou do futebol jogado dentro de campo. Chega a ser absurdo cogitar que a “copa das copas” trouxe benefícios para o Brasil. Em poucos meses o país poderá ver, na prática, o lucro de tudo isso. Enquanto o evento acontece, Salvador (BA) é homenageada como a “capital do amor” entre brasileiras e estrangeiros. Com certeza as maternidades irão registrar os frutos "meio nacionais, meio internacionais” oriundos do Mundial. E será bom mesmo que elas registrem. Afinal, no Brasil não existem problemas quanto à natalidade e tem "bolsa" para sustentar os moleques (é o que se vê por aí). Sortudos serão os fetos que permanecerem em gestação. Os centros de tratamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) também deverão passar a ser mais frequentados.
Mas a questão vai além disso. A inflação da Copa foi responsável por metade dos aumentos de preços em junho. E esses preços não serão, nem de longe, reduzidos por agora. Afinal, alguém tem que pagar a conta. O reajuste nas tarifas telefônicas, sobretudo nas recargas para celulares pré-pagos, não foram nem notadas ainda, tal qual a euforia em relação ao campeonato. E nem vamos discutir sobre as altas no mercado imobiliário. O aumento nos preços dos produtos, principalmente dos que levam nas embalagens o símbolo do Mundial, sequer foi questionada. Questionar para quê, né?! O circo foi armado, as arenas montadas (e lotadas). Então, está tudo certo!
Desde janeiro a mídia britânica já divulgava que traficantes do Rio de Janeiro (RJ) projetavam altos lucros com o Mundial. Alguém aí se habilita a arriscar o valor exato dos ganhos? Bom, na última terça-feira (08), a TV brasileira teve que mostrar o que ocorria na Vila Madalena (SP), após o jogo da seleção. A venda de drogas ocorreu como numa feira livre, as ofertas eram feitas aos gritos. Eles vendiam LSD, lança-perfume e cocaína como se estivessem oferecendo banana e laranja. Mas as favelas não foram pacificadas? Os traficantes não foram desarticulados? Iludido por uma solução temporária em favor do campeonato mundial, talvez o senso comum nem reflita sobre isso. Mas, a Copa vai acabar. E, aí? Os criminosos vão voltar para suas residências?
O valor da “copa das copas” está na casa dos 30 bilhões de dólares. Isso é mais do que as últimas três copas somadas juntas, que totalizaram, em média, 25 bilhões de dólares. Se assustou? Agora imagine o quanto vai custar a manutenção dos “modernos estádios” e demais obras construídas no padrão da Federação Internacional de Futebol. Vale lembrar que a FIFA receberá, sozinha, todo o lucro referente ao evento e não pagará nem parte dos impostos que são imputados a nós, brasileiros. E para não me considerar tão negativista em relação ao campeonato, você pode ponderar: “Mas os turistas vão fazer a moeda circular, então o capital vai girar e o povo do Brasil também irá lucrar de certa forma”. Eu retruco: O dinheiro que vêm de turistas e investidores vai parar nas mãos de gente confiável, ou ao menos compromissado com as premissas da livre iniciativa?
Silêncio parece ser a palavra de ordem no Brasil. Afinal, como reina no noticiário desde a derrota por 7x1, “brasileiro faz piada com a própria desgraça”. Desgraça? Mas que desgraça? Um time de futebol sendo goleado em uma semifinal de campeonato mundial? Isso é a desgraça?! Ah, imaginei que desgraça fosse ter colégios sem infraestrutura mínima para funcionamento; desvio de verba pública; dinheiro público em cueca, em meia, em malas. Imaginei que desgraça fosse seres humanos sendo obrigados a esperar meses por uma consulta no Sistema Único de Saúde (SUS), gente morrendo nos corredores de hospitais. Desgraça poderia ser considerada a forma como o patrimônio público é deteriorado, como o dinheiro do povo é embolsado, e como se comporta quem é eleito pelos cidadãos para administrar a tal máquina, que de pública, só tem o nome.
O 4º lugar está de bom tamanho
Reviewed by Thaiane Firmino
on
quinta-feira, julho 10, 2014
Rating:
